Isolada em mim mesma.
Agora um novo mundo com outros códigos.
Onde viver bem torna-se um ato de resistência.
É preciso viver em distância.
Com isso, sigo tentando não me tornar pandêmica.
Lembrando que tenho um corpo travesty.
Corpo que sente o que deseja, que quer sair. Quer sentar e sentir.
Busco com os dedos saciar a sede de pele. Mas logo percebo que não está em mim o que procuro.
Não alcanço. Me afasto.
Já a alguns dias em quarentena, sozinha.
Agora, um outro estado de des-conforto e corporeidade surgem, onde a solitude e a calma tornam-se amigos constantes.
Estar em pandemia sob ameaça de exterminio por um coronavírus.
Saber que já estamos em guerra hà séculos, é estar à tempos preparadas.
Então rogo pragas pra que aqueles desnecessários se aniquilem, e vibro para que a vida de minhas irmãs sejam preservadas.
Por vezes sozinha, me toco inteira.
Sei que preciso me fortaleçer e soltar a região do abdomén, por isso danço, para que este chakra fique estável.
Já que ultimamente não transo.
In transi entro quando desperto meu devir transcestral.
Por isso sei que não sou daqui.
Outras vidas habitam este corpo, e que elas sejam livres pra sair.
Pandemia tem cura sim, ela virá pela travesty.
Läz Raphaellie
É Arquiteta Urbanista pela Universidade Federal de Ouro Preto. Atua como Performer, Artista Visual e Pesquisadora independente em Decolonialidade e Cartografia Afetiva e Sensorial. Sua pesquisa intersecciona as relações entre corpo e cidade pelo viés da etnia-gênero-classe. Seu foco é o estudo das experiências e traumas registrados nos corpos generificados dentro do contexto da Diáspora Afrobrasileira.
Email: raphaellazrezende@gmail.com
Instagram: @lazraphaellie