por Tulio Colombo Corrêa
Manifesto de afeto ao coletivo
Estamos em guerra!
Contra as margens… contra os pobres, contra as bixas, contra os pretos, contra as mulheres, contra a fluidez. É caça às bruxas!
Povos contra povos, vem sendo implodidos um a um!
Seguem individualizando as coletividades, para que nossa capacidade de olhar o outro nos olhos seja substituída por desconfiança.
Matam os sonhos, substituindo-os por medo.
Carimbam sorrisos em propagandas, em mundos intangíveis.
A apatia tomou a reflexão, e a estagnação da dor impede toda e qualquer ação contrária.
Caçaram todas as linguagens que não podiam ser lidas, e a história oral foi desconsiderada.
Executamos nossas tarefas em plena inconsciência, num esforço incessante de dizer “tudo isso vai passar logo”, justamente por não sabermos mais de onde veio o tiro.
Seguimos oprimindo uns aos outros, por éticas e morais fixadas por processos dos quais nem fizemos parte.
Diga-se que, nesse momento, qualquer movimento diferente só será aceito no imaginário popular a partir do momento que gerar lucro.
Transformaram em dinheiro nossa sexualidade, gênero, nossos afetos… tudo às prateleiras de supermercados! Você pode ser livre, e comprar as liberdades vendidas nos pacotes clássicos industrializados, ou orgânicas de produtores locais.
Todas liberdades financiadas pelo mesmo dinheiro proveniente de escravidão, mas servem a todos os gostos, afinal o mercado é inclusivo.
Criaram uma diversidade com selo. Nossa multiplicidade é tolerada, desde que apenas pense em seus direitos individuais. Podemos suplicar para que não sejamos massacrados, desde que estejamos dentro de bolhas identitárias e jamais pensemos em um projeto coletivo de sociedade.
Lembremos que o sucesso deles é individual, apenas.
Deus… aquele Deus, está mais vivo do que nunca! Dentro de uma oni(pre)potência imposta pela crueldade das igrejas que erguem imensas catedrais para cultuar o ódio.
Já o Desejo… ah, o desejo! Foi cooptado, domado. O desejo deles se impõe por uma luz ardilosa, como uma esperança capenga e amarga, para saída de problemas que eles causaram carregando nossos cotidianos com inseguranças, pavores, medicamentos, golpes, e balas perdidas.
Com isso, o silêncio paira sobre a cidade e os gritos internos são ensurdecedores.
As vozes cansadas de tanto falar sobre tudo, já não dão conta de tantos absurdos. Caímos em naturalizações: “não ligue pra isso… é assim mesmo!”
Estamos em guerra!
Nossas subjetividades estão no tabuleiro, bem como a coletivização das relações humanas.
Essa guerra é contra os nossos corpos! Sujeitos foram e são assassinados em troca de um apagamento da alma.
A autonomia vem sendo sistematicamente suprimida pela dependência… destruíram nossa capacidade de ir além do que é conveniente para nos manter calados.
Fazem com que não nos reconheçamos mais como parte atuante no cotidiano. Tentam afastar as esferas de decisão do nosso dia-a-dia. Roubam nosso destino, nossas terras, nosso tempo!
Nos impõem uma auto-anulação constante.
De maneira desleal destituem nosso rosto de passado, presente e futuro. Assim nos oferecem o que eles criam enquanto “oportunidade”, justificando violências e mantendo estruturas de poder que nos matam a todo momento.
Novamente, estamos em guerra!
O que é coletivo?
De onde eu vim? De onde você veio?
Como chegamos até aqui?
Dentro de tudo o que foi dito, essa guerra atravessa até os fios de cabelo. Ela se estabelece nos olhares, nas histórias esquecidas, nas histórias apagadas.
Essa guerra é sobre um projeto de morte. É tão real que diz de bombas, molotovs, exércitos. Mas também diz de suicídios, solidão e loucuras. Essa guerra é coletiva e individual.
Ela faz parte de uma visão de mundo, de uma existência morta desde o primeiro suspiro.
Há de se aprender com as irrupções no tempo, com os nossos que ousaram entender-se para além do que lhes era dito. Com quem ousou rasgar a guerra e dialogar com outra razão, outra perspectiva.
Que nossas mãos possam continuar a escrever a história de quem insistiu em nos escrever até hoje! Que nossas vozes continuem a cantar as canções daquelas que cantaram felicidades de outras vitórias.
Outra razão de mundo é necessária, e nós precisamos continuar lutando para que ela seja possível aos nossos olhos.
Afinal, eles? Viverão sempre em um processo incessante de nos destruir dentro e fora de suas cabeças, tendo a morte como projeto de vida. Já nós, nos protegermos, criando outros mundos possíveis em cores, amores, afetos, encontros e [re]existências.
somos fortes por que somos muitas.
De que lado da trincheira você está?
Ou Luto, ou Luta.
Tulio Colombo Corrêa
Bixa, latino-americano e constantemente em crítica transformação. É Urbanista Arquiteto (UFOP) e atualmente mestrando na Escola de Arquitetura da UFMG (PACPS). Trabalha como designer gráfico. Multiplicidade, cultura, educação, democracia e assessoria técnica popular são base para sua atuação profissional, construída sob o olhar de uma pesquisador de política e produção do espaço no Brasil e América Latina.
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