por Grupo Viela
Andamos pela cidade e o que vemos? O que sentimos, lembramos, falamos?
Veja, a cada dobra de esquina, um pouco de cidade se mostra, se aproxima e acaba esbarrando em nossos corpos.
Porém, insistimos em movimentar anonimamente pelas ruas,
onde disseram ser o local do encontro…
É onde as regras do cotidiano ousam desenhar incontáveis movimentos em todo tipo de grandeza. Tentam controlar, resumir e vender as diferenças e pluralidades em parcelas de violências espaciais e, por quê não, corporais.
O medo do atropelo na rua é o menor dos problemas. A miscelânea de ruídos, a concentração de hábitos acelerados e a necessidade de se estar visivelmente disposto, se somam para dificultar com que sensações reais de empatia possam se afirmar com naturalidade.
Na verdade sentimos que muitos lugares não foram feitos para nós e sim para o trânsito daqueles que são bem específicos/exclusivos.
Continuamos a caminhar a sós e, mesmo com lacunas de todo tipo, seguimos para alguma esquina “logo ali”. Permanecer imóvel já não é mais uma opção entre outras…
Seja mensurável ou não, qualquer encontro da diferença passa a criar memórias compartilhadas, afinal escolhemos estar em grupos > conjuntos > multidões.
Temos o privilégio de dividir companhias incríveis e a cidade se torna plataforma de manifestações do cotidiano em constante experimentação; lembrar das reuniões e encontros desta semana para pensar possibilidades de uma cidade socialmente compartilhada e traçar desejos e perspectivas humanamente possíveis.
Em nossos caminhos cruzamos com superfícies espelhadas, densidade de muros, concentração de vazios, olhares furtivos e desconfiados que emolduram cenários para uma eterna “experiência despreparada”. Que tempo é esse que nunca tem tempo pra nós? Entrelaçado em espaços que não permitem abraços e reforçam o desafeto a partir do medo do “outro”. Ainda mais quando o “outro” é preto, pobre, bixa, gorda, magra demais, lésbica, travesti, dona de si… nossa, são tantos outros!
Acreditamos então que devem existir espaços “outros” também. Já que “outras” pessoas existem e demandam espaço para serem como são. Gostamos dessa ideia, e de fato há muita gente que caminha conosco, e assim construímos redes e alcance.
O espaço da cidade está em disputa. Precisamos ressignificar essas calçadas, essas ruas… qualquer lugar onde esses nossos caminhos cruzarem, há de ser “outro” lugar.
Abre-se um sorriso!
Continuamos nosso caminho, não mais a sós.
“Logo ali” era uma Viela, entrei!
Ali era um atalho para que mais rápido nos encontrássemos. O começo era estreito, mas se abria a cada passo adiante.
Ao final daquele caminho que trilhamos, entendemos que aquilo era resultado de muitas mãos – de um processo histórico: Cultura.
Somos conjuntos, (re)existências! As escalas da casa e da cidade se cruzam nos corpos que transitam em seus intervalos.
Cultura produz espaço, e nós produzimos cultura. Que sonhemos e celebremos nossas relações para que caibamos nesse mundo, e para que esse mundo caiba em nós.
Avistamos amigos do “outro” lado.
Atravessamos a rua, e a rua nos atravessou!
Grupo Viela
Surge com 6 arquitetos urbanistas LGBTI+, residentes em Belo Horizonte, com interesses distintos e complementares e, por conta disso, é inerentemente transdisciplinar. Somos um grupo que busca alinhar ações diretas na produção do espaço, produção de conhecimento popular e científico (pesquisa acadêmica) e questões artístico-culturais.
Instagram: @grupoviela
Email: vielagrupo@gmail.com