Tempo de Nos Aquilombar
Conceição Evaristo
É tempo de caminhar em fingido silêncio,
e buscar o momento certo do grito,
aparentar fechar um olho evitando o cisco
e abrir escancaradamente o outro.
É tempo de fazer os ouvidos moucos
para os vazios lero-leros,
e cuidar dos passos assuntando as vias
ir se vigiando atento, que o buraco é fundo.
É tempo de ninguém se soltar de ninguém,
mas olhar fundo na palma aberta
a alma de quem lhe oferece o gesto.
O laçar de mãos não pode ser algema
e sim acertada tática, necessário esquema.
É tempo de formar novos quilombos,
em qualquer lugar que estejamos,
e que venham os dias futuros, salve 2020,
a mística quilombola persiste afirmando:
“a liberdade é uma luta constante”.
Por Lucimélia Romão*
Mostra Queerlombos, um espaço de trocas artísticas entre os pares e a comunidade, uma rede de conhecimento e apoio em Ouro Preto.
Em 2017, participei da Semana Afrofeminista, organizada pelo NINFEIAS. Ali iniciava o meu primeiro trabalho solo em performance e esse trabalho era realizado numa cozinha. Houve um acolhimento muito grande por parte da produção dessa mostra em achar o lugar ideal (que foi a cozinha da moradia estudantil) e também dos espectadores em trocar posteriormente em uma conversa as sensações que tiveram durante e a ação.
Em 2018, também em Ouro Preto participei da Queerlombos (NINFEIAS e Coletiva Queerlombos se uniram nesta edição para realizar a mostra)**. Como uma mostra de diversidades artísticas, em 2018 pude assistir uma Performance do artista Belorizontino Kako Arancibia (link), que falava sobre o HIV, esse artista, tinha assistido a minha performance “Marco” no dia anterior, que falava sobre o genocídio da população negra com o viés da mulher, da mãe que fica e vivencia diversas dores e frustrações pós a morte de seu filho pelo Estado genocida. Houve uma troca mútua em falar dos nossos trabalhos e o artista em questão relacionou as nossas obras ao informar que no Brasil as mulheres negras são as mais afetadas com as doenças sexualmente transmissíveis.
Lucimélia Romão
É artista de rua e performer. Atriz, formada em 2013 no curso técnico em Teatro pelo Escola Municipal de Artes Maestro Fêgo Camargo em Taubaté/ SP. Graduanda em Teatro pela Universidade Federal de São João Del Rei – MG onde pesquisa teatro e performance negra.
É co-criadora do grupo de teatro Cia Mineira de Teatro. Atualmente circula com a performance Marcos; MIL LITROS DE PRETO: A MARÉ ESTÁ CHEIA; e o espetáculo DÉFICIT.
**Em 2018 a Coletiva Queerlombos (que se chamava Coletiva Diversidade Ouro Preto) e o NINFEIAS – Núcleo de investigações feministas, se uniram como proposta de unir forças, já que as duas coletivas realizavam mostras diferentes com temáticas convergentes em concomitância no mesmo território. Assim, a “Semana de diversidade de Ouro Preto e Mariana” e a “Semana Afrofeminista” compuseram no ano citado a primeira “Queerlombos – Afetos, encontros e re-existências”. A parceria se encerrou após este evento.
A Queerlombos seguiu com o evento em 2019, “Queerlombos – Territórios de guerrilha”, e no mesmo ano se transformou na Plataforma Queerlombos (deixando a alcunha Coletiva Diversidade Ouro Preto). O NINFEIAS (link) segue com suas atividades e eventos. (nota da editora).