Pistas sobre um cinema de aquilombamento na escola pública. Experiências da Olhares (Im)Possíveis com o filme Benedita.

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por Arthur Medrado

 

A proposta e o território: cinema na escola pública de tempo integral em uma cidade colonial.

            O projeto que dá origem a essa escrita é minha pesquisa de doutorado na qual me proponho investigar as estéticas periféricas/ marginais em contraposição aos modelos hegemônicos em Ouro Preto, uma cidade colonial em Minas Gerais. Como metodologia utilizamos as intervenções audiovisuais.

            É a continuidade a um trabalho realizado desde 2017, por meio de intervenções com oficinas de vídeo que começaram com crianças de 10 e 11 anos do Bairro Nossa Senhora do Carmo, o Pocinho, na periferia da cidade. Após três anos de aplicação da metodologia, atualmente entendo a olhares (im)possíveis como um projeto que compreende o cinema como uma prática de cuidado.

            No contexto cotidiano das crianças e jovens (maioria negras/os) que participam e participaram das oficinas a violência e a repressão (principalmente por parte do polícia, mas também do tráfico de drogas e do machismo) impõe limites aos corpos desde muito cedo e inibe a circulação dessas pessoas em diversos espaços da cidade – principalmente o centro histórico. Esse distanciamento também é gerado pelo próprio aparato cultural hegemônico que é fomentado, na maioria das vezes, pelos interesses econômicos vinculados ao turismo e a mineração.

Essas operações de impossibilidade de acesso aos espaços e controle dos corpos é (mais uma) evidência das estruturas racistas e heteronormativas (ainda) presentes em nossa sociedade desde a primeira experiência de colônia. O que persiste até hoje são os “ Processos de um racismo Mascarado” que Abdista do Nascimento já havia documentado em seu livro “O Genocídio do Negro Brasileiro”, em 1976.

            Nos encontros realizados o que fica evidente, na maior parte do tempo, é o distanciamento da população local aos bens culturais presentes no centro histórico e também nos bairros não tombados de classe média, como no bairro Bauxita, onde se localiza a Escola Estadual de Ouro Preto ( que recebe nossas atividades desde 2018) e o Campus da Universidade Federal, por exemplo. Podemos pensar então que além de objetivo (distância, por exemplo ou mesmo a linha imaginária que delimita o que é e o que não é tombado) esse distanciamento também ocorre de modo subjetivo através de um não-pertencimento.

Imagem: mapa com demarcação da praça tiradentes. UFOP, EE de ouro preto e EM adhalmir santos maia. Trajeto praça tiradentes – pocinho. Recorte do google maps com inserção de pins.

 

Tanto o centro histórico (com seus monumentos que mobilizam a vinda de milhares de turistas de todo o mundo para a cidade), bem como na parte “nova” e de classe média (com forte presença da comunidade universitária e trabalhadoras/es da mineração) estão dedicados principalmente a população flutuante. Conto isso, para situar quem não conhece o território e evidenciar que há mais uma barreira que as pessoas pobres, racializadas e periféricas da cidade enfrentam: uma barreira estética.

            Desde que iniciamos o trabalho com as oficinas e as intervenções audiovisuais com essa  metodologia, que teve como base o projeto Inventar com a Diferença – Cinema e Direitos Humanos, um dos fatos que mais ficou evidente foi que as proposições e intervenções realizadas podiam suscitar momentos de engajamento das crianças e jovens com a própria escola, o bairro e com o grupo.

            Neste texto pretendo me atentar ao processo de produção de Benedita, uma filme realizado por um grupo de meninas em 2018, quando experimentamos o dispositivo filme-carta em relação com as proposições do projeto americano The Black School.

            Nas palavras que vem a seguir pretendo anunciar que a radicalidade do filme produzido só foi possível porque ele, além de ser construído, é também o resultado de um processo de aquilombamento[1] das/os envolvidas/os.  Esse texto, ainda que escrito em um formato acadêmico, se preocupa mais em indiciar questões e promover diálogos entre teóricas(os) e artistas decoloniais com relatos (entrevistas gravadas) e escritas reflexivas de pessoas que participaram e vivenciaram o seu(s) processo(s) de produção. As pistas que apresento aqui apontam possibilidades para leituras e análises e não se propõem a fazer revisão de bibliográfica ou dar conta de elaborar uma genealogia sobre conceitos e questões muito caras a minha prática-pesquisa-política: aquilombamento, racismo, violência/desigualdade de gênero e bullying nas escolas.

PISTA 1: Provocações dos Cinemas negros, das/nas periferia, decoloniais e comunitários como possibilidades de Cinemas de Aquilombamento.

            Haile Gerima é um pesquisador e cineasta da Etiópia que trabalha na Universidade de Chicago,  nos Estados Unidos. Tive a oportunidade de escutá-lo no encontro de cinema negro Zózimo Bulbul em 2018, onde, dentre outras, apresentou duas questões que começavam a reverberar em nosso trabalho com cinema na escola.

 Primeiramente as perspectivas de cinema comunitário, onde a figura do diretor/a parece emergir como figura de um/uma impulsionador/a. Outra provocação (e talvez a mais importante) diz respeito a questão da busca por um sotaque cinematográfico através da prática, do exercício de realizar filmes. Na ocasião, Gerima também nos atentou sobre a necessidade de um certo descontentamento para que uma produção artística possa ser não burguesa.

            O que ficou para o trabalho realizado como uma questão, foi:  “Como provocar um/a outro/a para que ele/a produza imagens buscando seu sotaque cinematográfico?”. A possibilidade que encontramos foi experimentar à partir das práticas e proposições do projeto The Black School, uma escola de arte decolonial que ensina “história negra radical” para crianças e jovens nos Estado Unidos.

            A The Black School se apresenta como: “An experimental art school teaching art and radical Black history” [ escola de arte experimental que ensina arte e “história negra Radical”] e assume como compromisso as práticas educativas e artísticas que consideram a produção, o aprendizado e a disseminação de conhecimentos determinados pela própria comunidade, através da ideia de educação (com a arte) como um direito e um meio para a justiça social. Ou: “An experimental art school to educate students in becoming radical agents of change.” [ uma escola de arte experimental para educar os estudantes a se tornarem agentes radicais de mudança].

            Em 2018, durante o dispositivo Filme-carta, que consiste em realizar um curta-metragem tendo como ponto de partida a escolha de uma/um destinatária/o, optámos por experimentar de modo mais aprofundado as proposições de trabalhar com os passos proposto no baralho de processos da the black school[2] para realização de uma obra de arte. Aos passos propostos, adicionamos escolha de um destinatário como última etapa.

Escolha alguns ou algumas:

  1.  princípios
  2. questões
  3. táticas
  4. meios
  5.  formas
  6. destinatárias/os

 

Pista 2: Metodologia e autonomia.

Como já disse na introdução, em 2018 iniciamos nosso trabalho na Escola Estadual de Ouro Preto (O Polivalente). Na ocasião, a entrada na escola se deu via parceria com a Professora Olga Ferreira, que nesse ano esteve responsável pela oficina de mídias para as/os estudantes do ensino fundamental II que frequentaram a educação em o tempo integral[3]. O trabalho teve início no dia 03 de julho e se encerrou em 11 de dezembro (20 encontros de 2h30 de duração cada).

Os 40 estudantes matriculados chegavam na escola pela manhã, para realizar diversas atividades e no período da tarde,  participavam das suas aulas convencionais. A rotatividade no período da manhã era bem alta, porém, de acordo com as listas de presenças podemos identificar que 22 estudantes participaram efetivamente da oficina de vídeo realizada como primeira parte da intervenção de minha pesquisa de doutorado[4]. Essa estratégia foi adotada justamente porque trabalhando dentro das oficinas de mídias teríamos momentos de maior liberdade para encontrar com os/as estudantes. Para essas oficinas partir da noção de dispositivo, desenvolvida por Cezar Migliorin no trabalho com o projeto Inventar com a Diferença.

Entende-se como dispositivo aquilo que coloca quem participa numa espécie de crise, já que as proposições operam provocando a articulação entre um comando fechado e ao mesmo tempo aberto à inventividade. A partir dessa noção apropriada, articulei para a primeira etapa da intervenção quatro momentos que garantiram a emergência das imagens-sintoma produzidas pelas crianças participantes. São eles: 1) Cartão Postal, 2) Minuto Lumière (ML), 3) Filme-Carta e 4) Cartografia dos Sonhos. 

            Além disso, realizamos um roteiro sensorial no centro histórico seguido de um almoço no restaurante universitário da UFOP. Essa foi uma “demanda” dos/as estudantes durante uma de nossas refeições na escola. Nas primeiras saídas, caminhadas e derivas para realizar os postais e os ML vários deles/as escolheram o Campus da UFOP como lugar que gostariam de visitar.

            Apesar das dificuldades em trabalhar com instituições que impõe a confecção de relatórios e os planejamentos prévios (que ao mesmo tempo que podem garantir o êxito do trabalho) muitas vezes impede que as pessoas envolvidas possam protagonizar e decidir sobre a metodologia utilizada. Escolher trabalhar com os dispositivos permite que essa barreira seja ultrapassada em diversos momentos.  Por isso, neste ano, os/as jovens e crianças puderam protagonizar o planejamento do trabalho, subvertendo os dispositivos e inclusive escolhendo não participarem em alguns dias da atividade.

Além disso, durante a semana da consciência negra levamos para a EE de Ouro Preto o Eixo Diversidade com a escola da Queerlombos, onde a comunidade escolar pode participar de atividades e oficinas que discutiram temáticas como diversidade, machismo e racismo .

Oficina Ministrada pelo Ninfeias aos/as estudantes da Olhares (Im)possíveis no evento Queerlombos: Afetos, Encontros e (Re)existência – Edição 2018.

Exibição dos filmes do coletivo Olhares (Im)possíveis no evento Queerlombos: Territórios de guerrilha – Edição 2019.

 

A autonomia das/os envolvidos foi radicalizada no ano seguinte (2019), quando abandonamos a ideia de oficinas e as posições pré estabelecidas entre educador/a e estudante para a criação de um grupo de cinema. Atualmente, no Coletivo Olhares (Im)Possíveis somos pesquisadores/as, estudantes (adultos, jovens, e crianças), gestoras, profissionais da escola e ativistas pela educação experimentando práticas colaborativas de realizar cinema de grupo, tendo como direcionamento o cuidado com a Horta escolar (tema escolhido pelos/as estudantes). Indo além: somos um grupo que pesquisa, desenvolve e aplica metodologias com dispositivos de intervenções audiovisuais.

A seguir, a partir de um recorte específico de um dos filmes-carta realizados, perceberemos que os resultados desse material carrega em si uma potência de testemunho e trabalho com o trauma. Esse filme (e principalmente seu processo de realização) pode nos oferecer mais algumas pistas que nos leve a pensar que esses sejam processos de aquilombamento com o cinema na escola pública.

Pista 3: Benedita como viajante na espiral do tempo.

  

            Durante as oficinas, quando encaminhávamos para a produção dos filmes-carta as meninas já haviam resolvido que iram fazer um filme de terror.

            O resultado é Benedita, um curta-metragem de 4 minutos que se inicia com a cena de uma menina morta no banheiro de sua escola – que está repleto de sangue. Ao final da cena, vemos em tela  uma cartela que informa: “Um ano depois…”.

            O filme segue com duas sequências do cotidiano escolar onde um grupo de meninas pratica bullying contra as outras. As meninas agredidas são chamadas de “neguinhas do cabelo liso” (as personagens usam perucas) e “pretas fedidas”. Ao final de cada cena a câmera mostra a “assombração” que observa as sequência de agressões sem interferir. 

            Depois disso, o que temos é um flashback (em tonalidade amarelada) onde Benedita escreve em seu diário um relato sobre não aguentar mais sofrer o desprezo de todos na escola, dos professores e inclusive de seus pais. A personagem resolve então se matar para “voltar” e se vingar de todos/as que praticam bullying nas escolas. Após o flashback vemos as meninas “oprimidas” correndo em direção a uma sala onde encontram o diário de Benedita.  Nesse momento, quem vigia tudo de longe são as meninas “opressoras”.

            O filme segue e ao entrarem no banheiro da escola as “meninas opressoras” se deparam com os dizeres: “eu volto” escrito “em sangue” no espelho. As meninas se assustam e logo Benedita sai de uma das cabines, provocando terror nas personagens, que acabam desmaiando.

[Corte seco]

Somos levados/as para sala de aula onde as estudantes acordam de um sonho coletivo (aos gritos). A professora rapidamente corre e pergunta o que estava acontecendo ali. As meninas respondem que foi “apenas um sonho”. A professora não entende muito bem, mas deixa passar, e apresenta a nova estudante da escola: a Benedita.

[Fim do filme]

            A Benedita do passado, retorna no futuro. Ela é fruto da imaginação das meninas que realizam o filme, mas ao mesmo tempo um sonho coletivo que assombra as meninas que estão dentro do próprio filme ( as personagens opressoras).

            Nesse sentido, podemos pensar que Benedita parece viajar na espiral do tempo. Ou seja: tanto a narrativa do filme, como a personagem, operam em uma dimensão temporal que não respeita a linearidade passado-presente-futuro. Por isso, tempo espiralar, ou em espiral, como nos convoca a pensar a teórica e ensaísta Leda Maria Martins.

            Benedita está presente, mesmo quando não está. O filme não nos dá a certeza se a personagem é um sonho ou não, já que as escolhas das meninas que o realizaram abrem margem justamente para essa ambiguidade. Dessa maneira, o filme atravessa essas temporalidades distintas a partir dos recurso escolhidos por suas realizadoras: o flashback e a elipse temporal provocada pela cartela com a frase “um ano depois” que aparece após a cena inicial. 

            Gostaria, então, de iniciar a percepção de que a personagem Benedita não somente como uma personagem fictícia qualquer, mas como uma ancestral do futuro (tratarei do tema mais adiante) e uma viajante do tempo espiralar. Para Leda Maria Martins:

o tempo espiralar é uma percepção cósmica e filosófica que entrelaça, no mesmo circuito de significância, a ancestralidade e a morte. Nela o passado habita o presente e o futuro, o que faz com que os eventos, desvestidos de uma cronologia linear, estejam em processo de uma perene transformação e, concomitantemente, co-relacionados. (MARTINS, 2001, p. 79).

            Nessa perspectiva, podemos perceber que Benedita não opera somente entre os tempos evocados dentro filme, como também nos tempos em espiral que estão fora do dele, no extra-campo, que é a própria vida e a rotina escolar dessas estudantes. Em nenhum momento de nosso trabalho com as oficinas de realização nos preocupamos em tutelar e interferir nas cenas realizadas para os filmes-cartas. Ou seja, todas tinham liberdade criativa em elaborar seus pensamentos e tentar organizá-los em uma primeira espécie de roteiro. Após construírem um roteiro em grupo, as meninas definiram quem seriam as personagens, e quem iria dirigir cada uma das cenas. Um dos meninos foi solicitado a participar, justamente porque haviam cenas em que todas estavam “atuando”. Antes de gravar as cenas de bullying as meninas se dividiram em “opressoras” e “oprimidas” e ao realizarem a cena o que se escuta (justamente porque são elas que dizem e reafirmam na gravação de áudios dos insultos usados para compor as cenas) é :” neguinha do cabelo liso, fedida,…”.  Mais do que Bullying, o que o filme evidencia é o caráter racista das ofensas sofridas pelas jovens negras (tanto no filme, como em seus cotidianos).

            Ns entrevistas realizadas por Grada Kilomba para sua tese de doutorado, publicada como livro em português em 2019,  “Memórias da plantação – Episódios de Racismo Cotidiano”, a autora analisa discursos acerca do racismo a partir de experiências de mulheres negras e há momentos destinados especificamente aos temas como o suicídio, os cabelos e a fantasia branca de que as pessoas negras não são higiênicas. Há também uma parte dedicada a atemporalidade. Ou seja: os mesmo temas tratados pelas meninas do filme Benedita, mesmo que elas nunca tenham escutado falar na autora portuguesa. Evocarei essa autora mais adiante nesta análise.

            Ao re-encenar as cenas de “bullying”, ou os episódios de racismo cotidiano, o que as meninas parecem nos contar é justamente que isso que se escuta no filme é o que elas já escutaram. Ou seja: a própria prática de re-encenar uma situação já vivida nos permite analisar esse filmes como uma operação em tempo espiralar. 

            A cena da escrita do diário foi a primeira a ser gravada, mas, sua narração foi “esquecida” pelo grupo de meninas e só foi adicionado após assistirem ao primeiro corte do filme. Nesse momento o tempo também perde sua dimensão cronológica, já que ficção e realidade parecem imbricados nesse texto que surgiu como uma confissão. Tal elaboração pode então ser percebida como um trabalho com o trauma, uma criação de testemunho, uma espécie de testemunho narrado.  É o que podemos perceber no relato da Olga Ferreira, psicanalista que atuou como professora e acompanhou todo o processo de produção dos filmes:

Diferente do que ocorrera nas gravações das cenas, desta vez apenas duas estudantes quiseram compor essa escrita: a atriz que protagonizou o filme e a atriz que caracterizou Benedita e produziu o sangue na cena da morte. Essa aluna, inclusive, me disse que estava ali porque aquela era a sua história. A escrita de Benedita no diário não se deu de forma manual, foi narrada para mim. Numa sala afastada do restante do grupo eu escutei essas adolescentes darem palavras à Benedita, contarem sobre o seu cansaço, sua tristeza, a falta de escuta dos colegas, dos pais e dos professores. Ali, Benedita planejou então sua morte, sua volta e sua vingança. Transferi as falas das alunas para o papel que em seguida foi lido por elas e anexado às imagens. ( FERREIRA, p.3)

 

            No momento narrado no trecho escrito por Olga, passado e presente parecem coexistir e “Essa sensação de atemporalidade é uma característica do trauma clássico”(Kilomba, 2019.  p. 181).

            Um ano após a finalização do filme (Em outubro de 2019) a Jornalista Glauciene Oliveira entrevistou as/os participantes do projeto para seu documentário Plantando Memórias[5]. Na ocasião, do depoimento de Sandra, estudante de 14 anos do Oitavo Ano do Ensino fundamental,  que interpretou Benedita, a jornalista perguntou se alguém mais gostaria de fazer alguma pergunta. Nesse momento resolvi interferir. Sandra e eu estabelecemos o seguinte diálogo (optei por não fazer nenhuma edição durante a transcrição  das falas e trazê-las exatamente como aparecem no arquivo bruto da entrevista em vídeo):

 

ARTHUR : Você acha que mudou alguma coisa para você depois que você participou do projeto? Se você consegue fazer o exercício de olhar para essa Sandra há um ano e meio atrás e para essa Sandra de agora e se você consegue perceber alguma coisa, de mudança, para bom ou para ruim, seja com você ou com a sua relação com a escola, com a sua relação com sua família… ou agora com a questão da horta, se isso modificou alguma coisa com a sua relação fora do projeto, sabe ?! Se você consegue perceber (pode ser não a resposta também) alguma mudança depois que você começou a participar do projeto, ou se alguém já te disse alguma mudança…

SANDRA: Sim. Porque tipo: que nem do bullying, por que eu já sofri bullying. E eu acho que isso modificou muito na minha vida. Entendeu?! Ajudou muito.

A: Fazer o filme?

S:  É…

A: Pensar essa questão do bullying que vocês trabalham no filme?

S: é… porque não só me ajudou, mas ajudou outras pessoas também.

            O que Sandra nos conta, de certa forma, é que no projeto ela aprende mais do que sobre o cinema e que o grupo de cinema na escola a ajuda também em questões que aparentemente extrapolam as que são convencionalmente trabalhadas em um grupo de cinema. Além disso, em vários momentos e encontros a personagem Benedita é evocada: em tom de brincadeira, mas sempre relacionada a possibilidade de fazer justiça. Por exemplo, já aconteceu mais de uma vez, que alguma/um estudante escute algo que não goste, e por isso diga: “vou chamar a Benedita para você”.  Quando Benedita é lembrada a evocam como uma personagem e não é feita uma conexão direta com a estudante que a encenou.

            Durante sua participação no grupo de cinema, o que a menina evidencia algumas vezes é que parece haver também um processo de elaboração das questões para as próprias meninas envolvidas.

            Benedita é então um filme de terror, feito a partir dos “passos” apresentados pela TBS. O primeiro é a escolha de um propósito. E o propósito desse filme (escolhido por suas realizadoras) é justamente o amor próprio. Como último passo as alunas deveriam escolher um/a destinatário/a. Benedita é um filme endereçado a Escola.

            Porém, em sua primeira exibição para o então diretor, as professoras e os/as estudantes que acompanhavam o Tempo Integral e a pedagoga, o filme não foi bem recebido. Fomos questionados sobre uma mensagem “mais clara”, já que o filme “aborda uma temática tão forte como o suicídio”. Tal questionamento gerou enfrentamento e divergência de opiniões nas pessoas que estavam presentes. Como resultado desse debate/embate temos uma resposta bem objetiva do grupo de meninas: “no filme não falta nada, mas sim, um segundo filme”.  Por isso:

… definitivamente, Benedita não é um filme educativo. Há algo nessa história que não cessa, ao tentar se fazer escutar e que a cada vez que o filme é exibido em meios escolares parece assombrar a todos, menos às suas criadoras. De fato, Benedita volta para cumprir sua vingança marcada no final da carta em coerência com seu próprio nome: “vocês ainda vão ouvir falar muito de mim”. (Ferreira, p. 3-4)

            O que pretendi indiciar é que nesse processo vivenciado durante as 6 semanas de elaboração, gravação e finalização desse material, além de um processo de elaboração das questões para as próprias meninas envolvidas, temos um trabalho de conexão entre esse grupo de meninas, onde uma pode sustentar o(s) desejo(s) e o(s) discurso(s) da(s) outra(s) ao ponto de “enfrentarem”, juntas, a coordenação da escola para defender o filme que realizaram.  Defender a personagem que criaram.

            Em uma pesquisa rápida no google, encontramos o seguinte significado para o nome Benedita no dicionário de nomes próprios.

Benedita: Significa “bendito”, “abençoado”, “louvado”. É a variante feminina de Benedito, e tem origem no latim Benedictus, derivado de benedico, que quer dizer “falar bem de alguém”, no sentido de pedir a proteção divina a favor de alguém.[6]

O nome foi escolhido de forma “aleatória” pelas meninas, que dizem não saber porque o escolheram. Fato é que diferente da maioria das assombrações, a personagem é “bem dita” (Benedita) e não mal dita. Esse nome tem uma relação direta com a cultura afro-brasileira, já que são benedito é um dos poucos santos apresentados pelo cristianismo como negro. Me interessa então pensar que é exatamente essa não demarcação entre a realidade dos vivos e dos mortos, fundamental para separar o presente do passado que parece constituir o cerne da questão da visão de Leda Maria Martins sobre a perspectiva do tempo espiralar:

A primazia do movimento ancestral, fonte de inspiração, matiza as curvas de uma temporalidade espiralada, na qual os eventos, desvestidos de uma cronologia linear, estão em processo de uma perene transformação. (…) Vivenciar o tempo significa habitar uma temporalidade curvilínea, concebida como um rolo de pergaminho que vela e revela, enrola e desenrola, simultaneamente, as instâncias temporais que constituem o sujeito. (MARTINS, 2001, p. 79).

PISTA 4: Benedita como uma ancestral do futuro. A Ficção visionária como possibilidade de cura da ferida colonial.

 

            No processo de produção do filme há outras barreiras que foram rompidas. No início do trabalho haviam 4 estudantes da universidade, bolsistas de um programa de educação patrimonial, que acompanhavam as oficinas. No segundo encontro de produção desse filme, houve um episódio onde uma das universitárias gritou e ofendeu as estudantes. As “mediadoras” diziam-se “não obrigadas” a passarem por aquilo, se referindo aos tempos que as meninas demandavam para realizar esse trabalho, e as dinâmicas de dispersão que são próprias de um trabalho coletivo dentro da escola. Mas as meninas, diferente das pessoas que representavam as instituições, desde quando firmaram o ponto de como seria o filme não permitiram que ninguém interferisse no processo para desviá-las do seu objetivo: realizar o bem dito filme, Benedita.

            O outro grupo, composto pelos meninos que produziram o filme entre_vistas, realizou uma pausa na produção e ao que tudo indica só retomaram seu processo pois não podiam aceitar que “apenas as meninas realizassem seu filme”.  Como se numa atitude machista ( própria dos meninos e muitas vezes de forma inconsciente), dissessem que não iram permitir que apenas as meninas tivessem o filme finalizado. Vale ressaltar que a escolha dos grupos era livre, e a formação de um grupo de meninas e um grupo de meninos evidencia a binariedade própria do ambiente escolar. Contra ela estamos lutando e desde então estamos avançando de forma efetiva[7].          

Em seu texto, Reescrevendo o futuro: usando a ficção científica para rever a justiça[8],   Walidah Imarisha nos lembra que Nós frequentemente esquecemos de vislumbrar aquilo que pode vir a ser. Esquecemos de escavar o passado em busca de soluções que nos mostrem como podemos existir de outras formas no futuro. Por isso acredito que nossos movimentos por justiça precisam desesperadamente da ficção científica.” (Imarisha, 2016, p. 3). Essa parece ser a escolha das meninas: criar uma personagem-assombração que desafia não somente as estruturas de poder e hierarquia entre a coordenação escolar, professores e estudantes, como também tensiona o grupo de meninos em seu processo de realização cinematográfica.

Quando as 8 meninas se juntam e elaboram coletivamente todo o processo desse filme elas passam a simplesmente não olhar para os desincentivos que apareceram no processo. Nesse sentido, as meninas parecem possibilitar que “olhemos as gentes marginalizadas não como vítimas, mas como líderes, reconhecendo que sua habilidade em viver fora de sistemas aceitáveis é essencial para a criação de novos e justos mundos “ (Imarisha, 2016, p. 6)

            As meninas, liberam sua imaginação e por isso questionam não somente o cinema, mas a escola, e os profissionais que ali atuam, elas questionam toda uma moral que envolve a manutenção da vida.  Fazendo isso elas parecem nos lembrar da possibilidade de sermos “completamente irrealistas em nossas organizações, porque é somente por meio da imaginação acerca do assim chamado impossível que podemos começar a concretamente construí-lo”. (Imarisha, 2016, p. 4)

            Ao que tudo indica, as meninas entenderam muito bem a premissa da própria oficina: olhares (im)Possíveis.

            Nessa ótica, a vingança de Benedita não respeita uma estrutura que remonta a violência sofrida. Como nas ficções visionárias de Octavia`s Brood[9], Benedita também opera numa perspectiva do cuidado entre suas realizadoras, promovendo um ambiente onde as meninas não necessariamente precisam competir entre si ( como muitas vezes acontece) ou mesmo com os meninos. Por isso: “A estrutura não é uma de retribuição e punição, mas de cura para os indivíduos e para a comunidade inteira “ (Imarisha, 2016, p. 5).  Essa perspectiva de cuidado com a comunidade para além de si aparece também na sequência do diálogo que Sandra e eu estabelecemos.

 

A: “Por isso que vocês acham importante passar esse filme, várias vezes. Porque todas as vezes que a gente propõe que esse filme passe, eu percebo, se eu estiver errado você me corrige…”

S: “Aham:

A: “…eu percebo que vocês gostam de passar o filme, que vocês gostam de ver o filme. Mesmo vocês estando expostas ali, porque nem sempre é confortável né?! A gente estar se vendo na tela, principalmente quando projeta grande . Você acha importante então passar o filme? O que você sente quando passa o filme?”

S: “Eu acho que é importante por causa que é bom pra tipo outras pessoas que sofrem e outras pessoas que praticam bullying perceber as coisas que estão fazendo, que está errado. Entendeu?! Que num passa uma visão só para a gente, passa uma visão para os outros também. Para deixar o mundo melhor…”

A: “Pensando agora rapidamente. Se vocês fossem fazer um outro filme o que passa pela sua cabeça agora se eu falar para você vamos fazer um filme. O que você queria fazer…. “

S: “Eu acho que a gente podia pegar pessoas que a gente não conhecesse e colocasse sem uma ver a outra  e conversar para ver que tipo: não pode julgar a aparência.”

 

            O que Sandra parece evidenciar é uma preocupação com o ambiente coletivo, com o comum. Tanto quando fala da exibição do filme que realizamos, como na possibilidade de ensinar sobre cuidado, respeito e justiça em uma produção futura. Nessa mesma entrevista, quando perguntada sobre o que ela mais gosta no projeto: filmar, editar, ou ser filmada? A menina responde de forma imediata: “a comunhão de todo mundo fazendo junto”.

           

            Sobre atemporalidade, com Grada Kilomba pensaremos que “A escravidão e o colonialismo podem ser vistos como coisas do passado, mas então intimamente ligados ao presente”. (Kilomba, 2019, p. 233).  No presente, então, esses traços se encarnam como os episódios de racismo cotidiano, que no filme são apresentados como bullying.  A denúncia das meninas e o trabalho de vencer o bullyng-racista  sofrido pela personagem é desse modo o trunfo junto a sua comunidade: tanto a das meninas personagens oprimidas do filme, quando a das suas próprias realizadoras.

            Grada Kilomba cita Jenny Sharpe (2003) ao falar de uma “história assombrada” que persiste em perturbar a vida de pessoas negras, justamente por ter sido mal enterrada. Nesse ponto, segundo a autora, ao ressuscitar a vida das ancestrais Sharpe eleva a memória ao contar uma história corretamente. Grada nos lembra: “Esta é uma associação fascinante: nossa história nos assombra porque foi enterrada indevidamente. Escrever é, nesse sentido, uma maneira de ressuscitar uma experiência coletiva traumática e enterrá-la adequadamente (Kilomba, 2019, p. 223-224). Ou, no caso do filme Benedita, fazer cinema aparece como essa possibilidade tanto de enterrar o passado do bullying-racista, como de elaborar novas possibilidade de existência para as meninas envolvidas. Podemos pensar inclusive, na direção dessa perspectiva, que esse trabalho de re-elaboração das nossas histórias durante o projeto podem aparecer como uma possibilidade de cura. Cura do trauma, da ferida colonial. Uma barricada ao racismo cotidiano. 

Quando perguntada sobre o que espera para o futuro da olhares (Im)Possíveis e sobre ela mesma no projeto Sandra nos diz:

“Que a gente tipo: que nem do projeto a gente aprende muita coisa um com o outro. A gente também que ensinar para o outro as coisas boas da vida. Que a vida não tem só coisa ruim. “

 

            Já que falei de cura, para encerrar esse texto, gostaria de trazer uma citação de Castiel Vitorino Brasileiro, em seu filme “Lembrar daquilo que esqueci”, um vídeo documentário de 2020 disponível no site da artistas, quando aborda a questão da cura:

 

“A cura é uma experiência de saúde efêmera perecível por que ela se faz em um território que é efêmero e perecível, que é o próprio corpo. A gente tem que pensar a cura como fim e inicio de ciclo, como processo de mortificação e de produção de vida a partir de uma mortificação. A cura não é algo que vem depois de um processo de adoecimento, pelo contrário a cura se faz no processo de adoecimento. Se faz enquanto somos aniquiladas, enquanto somos mortificadas, enquanto somos assassinadas.

 

            E talvez,  a cura também se faça através da imaginação desses mundos que ainda estão por vir. Ou como nos convoca a pensar Jota Mombaça: no fim do mundo como conhecemos.

            Se lembrar é criar, podemos já perceber que há algo que é capaz de nos curar nesse processo de pensar, imaginar e realizar essas imagens produzidas por esses olhares (im)possíveis.

 

 

Breve nota de agradecimento:

Ao escrever esse texto, não posso me esquecer de fazer um agradecimento a Escola Estadual de Ouro Preto, o Polivalente. Que principalmente nos últimos 2 anos (que pude acompanhar de perto) está comprometida com possibilidades, estratégias e metodologias de educação que sejam efetivas para a emancipação de suas/eus estudantes. Mas também antes, pois eu  já havia estado na escola em dois outros momentos importantes: em 2015, para realizar o convite para a oficina de audiovisual que foi piloto do meu projeto com as oficinas de cinema (ministrada para alunas/os da escola no evento Campus Aberto da UFOP) e em 2016, quando realizamos atividades da 2a Semana de Diversidade, promovida pela coletiva Queerlombos, na ocupação estudantil que acontecia na escola. A escola também recebeu o Eixo diversidade com a escola em 2018 e 2019.

 

Referências.

Textos:

FERREIRA, Olga. BENEDITA: (est)ética de uma escuta na escola. Trabalho apresentado na XXIV Jornada do Aleph – Escola de Psicanálise “Agressividade e seus destinos”. 08 e 09 de novembro de 2019 em Belo Horizonte. (No prelo).

IMARISHA, Walidah. Reescrevendo o futuro: usando ficção científica para rever a justiça. Oficina de Imaginação Política – 32a Bienal de São Paulo: São Paulo, 2016. Tradução: Jota Mombaça.

KILOMBA, Grada. Memórias da Plantação: Episódios de Racismo Cotidiano. Trad. Jess Oliveira. 1. ed. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019

MARTINS, Leda Maria. A oralitura da memória. In: FONSECA, Maria Nazareth Soares. Brasil afro-brasileiro. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.

MIGLIORIN, Cezar [et al] Inventar com a diferença: cinema e direitos humanos. Niterói: Editora UFF, 2014

 

Vídeo:

LEMBRAR daquilo que esqueci. Direção de Castiel Vitorino Brasileiro. Realização de Castiel Vitorino Brasileiro, Roger Ghil, Rodrigo Jesus, Tatiane Loureiro Brasileiro e Iaia Rocha. Coordenação de Castiel Vitorino Brasileiro. Vitória, 2020. (20 min.), Vídeo Documentário Digital, son., color. Disponível em: https://castielvitorinobrasileiro.com/vid_lembrardaquiloqueesqueci. Acesso em: 15 maio 2020.

 

 

 

[1] A definição inicial de quilombos assimila como ponto central as trocas econômicas entre os fugitivos/as das fazendas e plantações. Aqui, proponho a assimilação de quilombos a partir da possibilidade de protagonizar, desenvolver e estabelecer lógicas de trocas em outras esferas, como a educação e o autocuidado em seus processos subjetivos. Flávio dos santos Gomes, inicia as primeiras palavra do “verbete”  “Quilombos/remanescente de quilombos” do Dicionário da Escravidão e Liberdade  desta forma: ” As sociedades escravistas conheceram diversas formas de resistência, destacando-se as fugas individuais e as comunidades de fugitivos. Nas áreas Urbanas as dificuldades para capturar os cativos eram grandes, e por isso os jornais ficaram abarrotados de anúncios de fugas. Ainda mais difícil era capturar os fugitivos que formavam quilombos/mocambos. (p. 367)

[2] Baralho de processo disponível aqui: https://theblackschool.bigcartel.com/product/process-cards

[3] Política pública importante que foi drasticamente reduzida no o ano de 2019 em todo o estado de Minas Gerais.

[4] Essa etapa do trabalho foi realizado nos moldes do que havia desenvolvido durante o mestrado. A Olhares (Im)possíveis foi um trabalho de produção teórico/prático que pretendeu a elaboração de uma metodologia de intervenção, por meio de oficinas realizadas com grupos em parceria com o coletivo Mica – Mídia, identidade, cultura e arte. Em 2017 e 2018 também compôs as ações do programa de educação patrimonial  Sentidos Urbanos – Patrimônio e Cidadania. Em 2019 o projeto sofreu uma mudança no formato de trabalho na escola de Ouro Preto. Apresentarei um pouco sobre essa mudança na estrutura do projeto mais adiante nesse texto. Para acessar a dissertação:  https://www.repositorio.ufop.br/handle/123456789/9911

[5] disponível aqui: http://olharesimpossiveis.com.br/documentario-plantando-memorias/

[6] https://www.dicionariodenomesproprios.com.br/benedita/

[7] Cito dois breves exemplos: recentemente, durante o isolamento social pela COVID-19, ao solicitar no grupo de whatsaap do projeto alguém para editar um vídeo, um dos meninos perguntou: “tem algum editor ou editora disponível?” O uso da linguagem no masculino e no feminino por esse jovem nos faz pensar que alguma transferência se deu entre as/os educadores/as que vem trabalhando com o grupo e as/os estudante. Além disso, no ano de 2019 todo o trabalho foi realizado por um único grupo, misto.

[8] Publicado pela Oficina de imaginação política e traduzido para  português por Jota Mombaça. Disponível aqui: https://issuu.com/amilcarpacker/docs/walidah_imarisha_reescrevendo_o_fut

[9]  A premissa básica de “Octavia’s Brood” é que toda organização é ficção científica. Para construir novos futuros apenas, é precisamos primeiro ser capazes de imaginá-los coletivamente. Nós também temos que ser capazes de imaginar diferentes maneiras de nos envolver uns com os outros, de partilhar o poder, de construir instituições, de estar em comunidade, que pode ser tão estranho para nós como viver em Marte.

 


Arthur Medrado

é jornalista e mestre em educação pela UFOP. Atualmente realiza pesquisa de doutorado no Programa de Pós-graduação em Cinema e Audiovisual (PPGCine/UFF) onde investiga-intervém com o Coletivo Olhares (Im)Possíveis, um grupo onde o cinema é entendido como uma uma prática de cuidado. www.olharesimpossiveis.com.br

Instagram: @arthurmedrado
e-mail: arthur@olharesimpossiveis.com.br


 

 

 

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